A jornalista e escritora Elsa Ribeiro Gonçalves foi este sábado distinguida no Women Economic Forum, um encontro internacional que decorre em Tomar até 25 de março, pela mensagem que o seu livro “Singularidades de uma Mulher de 40” (Médio Tejo Edições / Origami Livros) tem levado a tantas mulheres, ao longo do último ano.
“Inspirando Paixão e Inovação Através da Mudança Sustentável” é o tema central desta conferência, que reúne durante três dias cerca de 500 pessoas de 30 países.
Este foi o seu discurso, ao receber o prémio.
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Se hoje estou aqui foi porque um dia também trabalhei na sustentabilidade, no caso emocional, e comecei pelo mais óbvio: por mim própria.
Em 2016 vivi o ano mais desafiador da minha vida e estava em falência. Falência física, psicológica, financeira e emocional. Porque nós somos emoções.
Atravessei aquilo que hoje chamo como uma fase escura da alma para me descobrir e me encontrar. Quem sou eu? Qual é o meu propósito de vida? O que vim cá fazer? Foram questões a que tentei responder deixando de fugir de mim mesma.
Foi então que decidi mergulhar num processo de imersão, dentro de mim, e enfrentar todas as minhas sombras, descomplicando a vida do lado de dentro.
Em 2018, depois de me realinhar, escrevi um livro que inspirei em pouco tempo e que chamei de “Singularidades de uma Mulher de 40”.
Um livro que é de facto, para mim, mais do que uma história de ficção. Foi o culminar de 41 anos de vida e de experiências que se transformaram em palavras depois de serem meros pensamentos. E pensamentos cavernosos, atrevo-me a dizer. Vieram das profundezas da minha alma.
O primeiro episódio da história desta mulher – da personagem que se vestiu por ela própria – surgiu depois de ter ido ao supermercado comprar fiambre e ter sido atendida por uma funcionária de olhos tristes, muito tristes, que me comoveram e deixaram a pensar.
Que fique claro que nada tenho contra quem trabalha em supermercados. Mas aqueles olhos tristes eram os meus olhos tristes e tudo isto me levou a pensar que TODOS SOMOS UM. E a questionar o que leva alguém a desistir do seu brilho do olhar.
Pegando na minha experiência pessoal, também foi aos 40 que acordei. Por isso o livro se chama “Singularidades de uma Mulher de 40”. Os primeiros 40 são os mais difíceis. Os outros são fáceis para quem tem coragem de romper com o suposto.
E o que é o suposto: são as crenças, as ideias pré-concebidas, o que os outros esperam de nós. Viver em função do que os outros esperam de nós, negando as nossas vontades e arrumando os sonhos na gaveta.
Meus amigos, o que não é suposto é sermos infelizes.
Então, considero que se deitarmos abaixo tudo o que nos ensinaram – preservando apenas os valores – conseguimos alinhar-nos e viver de acordo com a nossa essência.
Vivemos numa época em que nos é dada a oportunidade de participar mais ativamente e conscientemente nas mudanças que vão ocorrendo pelo mundo. Isto é sustentabilidade.
Para isso, temos que nos tornar conscientes de quem somos e de qual é o nosso propósito de vida. Nós somos mais do que o nosso nome, idade e profissão. E muitas pessoas nunca conseguem responder à pergunta “quem sou eu” sem ser através da resposta a estas perguntas. Acreditem, somos mais do que isto.
Para mim, ter descoberto isto foi muito poderoso. Ao invés de tentar mudar os outros mudei-me a mim. Transmutei-me. E iniciei um caminho maravilhoso. Deixei de viver na energia do medo e passei a viver na energia do amor.
Este livro conta como é que a personagem conseguiu isso. E como isso incomodou os outros, que a deixaram de ter na mão. Ela deixou de fazer o caminho dos outros para começar a fazer o seu. Teve que ser resistente. São muitos os que tentam que não avancemos. Não lhes convém. Mas depois, os que gostam mesmo de nós, aceitam isso. Aceitam as nossas mudanças porque se gostam de nós também nos querem ver felizes.
Então, independentemente da situação, temos que nos lembrar sempre que se nascemos, se viemos ao mundo, foi para sermos felizes. Devemos ser velas que acendem outras velas. E para isso temos que brilhar. E só o conseguimos quando cultivamos o amor próprio. Quando gostamos da pessoa em que nos tornamos. A maneira como vemos os outros é sempre um reflexo de como nos relacionamos com nós próprios.
Aprendi isso na prática.
À medida que esta consciência vai despertando, tornamo-nos conscientes da gigantesca manipulação do sistema em que estamos inseridos, concluindo-se que a existência do Ser Humano é controlada e manipulada a todos os níveis. E depois, para agravar isto, vêm os ideais culturais e as crenças do passado, o que nos foi ensinado num tempo que já não existe. Eu decidi deitar tudo abaixo e encontrar novas formas para nos relacionarmos uns com os outros.
Quando aprendemos a confiar em nós, entramos em contato com energias que nos capacitam e ajudam, e, consequentemente, ajudarão a Humanidade a evoluir, tornando-se verdadeiramente civilizada.
Eu comecei a realizar sonhos – tenho a felicidade de já ter realizado vários – a partir do momento em que acreditei que os sonhos se realizavam depois de me esquecer o que me ensinaram, a ter os pés assentes na terra. Enquanto tive os pés na terra fui sempre muito infeliz. E soube também que, fazendo este caminho de viver a minha verdade, consigo atrair mais prosperidade para a minha vida.
Quero terminar apenas com esta mensagem: a sustentabilidade começa em cada um de nós, fazendo da Felicidade uma decisão e sabendo que o outro sou Eu, num espírito de Unidade e Fraternidade.
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